terça-feira, 26 de março de 2013

Cantinho da Leitura



A MOSCA E A FORMIGUINHA

Fábulas de Monteiro Lobato

- Sou fidalga! – dizia a mosca à formiguinha que passava carregando uma folha de roseira. Não trabalho, pouso em todas as mesas, lambisco de todos os manjares, passeio sobre o colo das donzelas – e até me sento no nariz. Que vidão regalado o meu...
            A formiguinha arriou a carga, enxugou a testa e disse:
- Apesar de tudo, não invejo a sorte das moscas. São malvistas. Ninguém as estima. Toda gente as enxota com asco. E o pior é que tem um berço degradante: nascem nas esterqueiras.
- Ora, ora! – exclamou a mosca. Viva eu quente e ria- se a gente.
E além de imundas são cínicas – continuou a formiga. Não passam dumas parasitas – e parasita é sinônimo de ladrão. Já a mim todos me respeitam. Sou rica pelo meu trabalho, tenho casa própria onde nada me falta durante o rigor do mau tempo. E você? Vocês bastam que fechem a porta da cozinha e já está sem comer. Não troco a minha honesta vida de operária pela vida dourada dos filantes.
- Quem desdenha quer comprar – murmurou ironicamente a mosca.
             Dias depois a formiga encontrou a mosca a debater-se numa vidraça.
- Então, fidalga, que é isso? – perguntou – lhe.
A prisioneira respondeu muito aflita:
- Os donos da casa partiram de viagem e me deixaram trancada aqui. Estou morrendo de fome e já exausta de tanto me debater.
             A formiga repetiu as empáfias da mosca, imitando- lhe a voz: “Sou fidalga! Pouso em todas as mesas... Passeio pelo colo das donzelas...” e lá seguiu o seu caminho, apressadinha como sempre.
QUEM QUER COLHER, PLANTA. E QUEM DO ALHEIO VIVE, UM DIA SE ENGASGA.

Nenhum comentário:

Postar um comentário