A MOSCA E A FORMIGUINHA
Fábulas de Monteiro
Lobato
- Sou fidalga! – dizia a mosca à
formiguinha que passava carregando uma folha de roseira. Não trabalho, pouso em
todas as mesas, lambisco de todos os manjares, passeio sobre o colo das
donzelas – e até me sento no nariz. Que vidão regalado o meu...
A formiguinha arriou a carga, enxugou
a testa e disse:
- Apesar de tudo, não invejo a sorte
das moscas. São malvistas. Ninguém as estima. Toda gente as enxota com asco. E
o pior é que tem um berço degradante: nascem nas esterqueiras.
- Ora, ora! – exclamou a mosca. Viva
eu quente e ria- se a gente.
E além de imundas são cínicas –
continuou a formiga. Não passam dumas parasitas – e parasita é sinônimo de
ladrão. Já a mim todos me respeitam. Sou rica pelo meu trabalho, tenho casa
própria onde nada me falta durante o rigor do mau tempo. E você? Vocês bastam
que fechem a porta da cozinha e já está sem comer. Não troco a minha honesta
vida de operária pela vida dourada dos filantes.
- Quem desdenha quer comprar –
murmurou ironicamente a mosca.
Dias depois a formiga encontrou a mosca a
debater-se numa vidraça.
- Então, fidalga, que é isso? –
perguntou – lhe.
A prisioneira respondeu muito aflita:
- Os donos da casa partiram de viagem
e me deixaram trancada aqui. Estou morrendo de fome e já exausta de tanto me
debater.
A formiga repetiu as empáfias da mosca,
imitando- lhe a voz: “Sou fidalga! Pouso em todas as mesas... Passeio pelo colo
das donzelas...” e lá seguiu o seu caminho, apressadinha como sempre.
QUEM QUER COLHER, PLANTA. E QUEM DO ALHEIO VIVE, UM DIA SE
ENGASGA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário